
Escrevo. Escrevo com a alma acorrentada de dor e de memórias que povoam cada um dos meus pensamentos e acções. Escrevo. Escrevo enquanto choro a vida que levo e aceito punição por ter dó de mim. Escrevo enquanto a caneta treme de medo do futuro e questiono-me se a minha alma terá forças para continuar. Percebo que não. Olho para os comprimidos que repousam na mesa de cabeceira e revejo-me neles. Tomo-os com a coragem que nunca tive para enfrentar a vida. Deito-me no mesmo canto em que sempre chorei a dor de existir. Espero a espera mais lenta da minha existência enquanto seguro a minha própria mão. As minhas lágrimas quentes tornaram-se poupo a poupo frias até simplesmente não as sentir. Aperto com força a minha mão em silêncio. Não sinto nada e ao mesmo tempo sinto tudo. No meu último suspiro as cicatrizes do tempo desaparecem e fechando os olhos a poucos momentos de me cruzar com o descanso eterno... sorrio.

